sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PRIMEIRO CAPÍTULO: A ESTRADA MORTA


           
            A guerra destruía tudo naquele lugar. Lá, o céu se tornara impossível. Um velho e um miúdo seguem pela estrada descalços. Fogem da guerra, que contaminara toda a sua terra. O velho chama-se Tuahir. É magro, parece ter perdido toda a substância, não sabia ler. O jovem se chama Muidinga. Miúdo, tem uma doença que quase o arrastara até a morte, foi recolhido por Tuahir, quer procurar seus pais, tem medo da noite, fora ensinado por Tuahir a falar, andar, pensar.
            Muidinga e Tuahir param em um machimbombo, dispostos a ficar lá por certo tempo. Dentro do autocarro, o corredor e os bancos ainda estão cobertos de corpos carbonizados.
            Saem para enterrar os cadáveres. No caminho, acham mais um corpo, que não estava queimado, pois havia sido morto a tiro. Junto dele estava uma mala fechada, intacta. Abrem a mala, e acham roupas, uma caixa de comidas, cartas, caderninhos...
             Muidinga esconde os caderninhos encontrados na mala. Acende uma fogueira e começa a ler um dos capítulos do primeiro caderninho: “Quero pôr os tempos...”.

            A partir daí, Muidinga lerá grandes histórias na vista de um menino na Guerra de Moçambique.




Ana Cláudia

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